Portugal caminha a passos largos para a legalização de todas as drogas, e proibição do tabaco. Ao contrário de tantos liberais e alguma gente de esquerda, da qual discordo neste ponto, não acho que as drogas devem ser tratadas como morangos. É evidente que a criminalização incentiva o tráfico. Sim, devem ser legalizadas. Outra coisa é se devem ser incentivadas. A chamada guerra do opium foi uma disputa com a China, para a fazer cair como protetorado; a disseminação da maconha nos bairros periféricos no movimento dos direitos civis teve um papel no apaziguamento da juventude rebelde - sim, a maioria ficam catatónicos com o consumo regular de ganzas, chama-se pomposamente síndrome amotivacional; Estaline quando acabou com o poder dos sovietes e das comissões de trabalhadores passou a distribuir vodka gratuita à porta das fábricas grandes (ver trabalhos do historiador Hillel Ticktin, ao lado da polícia política a vodka gratuita).
E hoje qualquer trabalhador em sofrimento tem grandes possibilidades de ir ao médico e sair de lá com um calmante, que aliás tem o mesmo efeito do álcool. Mais de 25% dos portugueses tomam drogas legais, para sofrimentos na sua maioria sociais e económicos, sofrem de solidão, porque o trabalho se tornou num espaço de solidão que contamina toda a ausência de cooperação familiar, social, afectiva.
Mais, hoje o haxixe tem quantidades de THC que, garantem-me psiquiatras que trabalham na área, são a razão principal de internamentos por esquizofrenia em algumas unidades. O THC em alguns casos, ouvi numa conferência pública, subiu mais de 20% face há 40 anos. Dito isto o tabaco faz mal, o consumo de tudo na vida pode ser tóxico e/ou recreativo.
Aliás o uso de telemóveis tem, na minha opinião e de dezenas de estudos neurológicos, o mesmo efeito, compulsão, "prazer", entorpecimento depois da histeria. Ver sobre isto o livro Cretinos Digitais, de um neurologista francês, onde o consumo de vídeos e jogos e redes sociais nos telemóveis é equiparado à cocaína.
As linhas cinzentas são enormes. Proibir, seja o que for, cria um mercado negro. E trata cidadãos livres como súbditos do Estado força. Sou contra proibições. Por isso também sou contra que não se debata livremente o tema.
Porque não nos perguntamos porque as drogas - leves e pesadas, legais e ilegais - se disseminam numa sociedade que não tem prazer no trabalho? É que quem não tem prazer no trabalho não tem prazer na vida, porque é a partir daí que tudo é determinante. Esta conversa de uma parte da esquerda e dos sectores liberais de fumar seja o que for é idêntico oculta que as drogas, todas, podem serem usadas como método de controlo social. Talvez pudéssemos ter uma discussão mais profunda sobre tudo isto em vez do habitual preto e branco, que é a na verdade a expressão de que a sociedade se explica e conduz por contratos, de legalização ou proibição.
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