Ao fim de 30 anos a desvalorizar as ciências humanas e sociais, e a enfiar pela goela abaixo de alunos brilhantes que a única saída é a gestão e a engenharia, temos a mais cabal confissão de ignorância política e pública dos dirigentes dos Estados quando se debate, perante uma situação social ultra complexa que nos faz andar, a nós académicos, em estudos de anos, a ser substituída pela contabilização de polícias e detidos. Eu sugeria o seguinte, contratem um matemático e um informático, calculem o perímetro das zonas, versus número de habitantes, tragam polícias e cadeias, apresentem tudo num Power Point, e, olhem, tudo vai ficar bem. E não esquecer em cima do algoritmo o arco-íris da paz - mesmo em cima de escombros não pode faltar o pensamento mágico.
Nós, cientistas sociais críticos, filósofos, historiadores, sociólogos, a quem perguntam há anos "mas para que servem? para que vos pagam?" estamos no sofá a assistir à farsa, que se repete depois da tragédia. Servimos pelo menos para isto, para na hora em que se torna impossível continuar a ocultar todos os desastres sociais, poder dizer, como consolo triste e frustrado: nós tínhamos avisado...
Macron, o gestor, ao leme da Europa a arder. Na mesma semana em que Lagarde, sua companheira de caminho, que ganha 1600 euros por dia, anuncia a vida dura dos trabalhadores, os sectores mais empobrecidos e marginalizados da França gritam desesperadamente ao mundo que assim não podemos continuar.
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