Depois de ter permitido que o país (que em condições normais tem picos de calor e vento desde sempre) fosse plantado de lés a lés de eucalipto o Estado, que nunca teve uma política florestal concertada, apela a que não sejamos "negligentes". Multiplicam-se discursos. É evidente que devemos ser cautelosos ao máximo, mas achar que é com rezas que se evitam tragédias, é a parte trágica de tudo isto. Um eucalipto a arder com vento expulsa bolas (fitas) de fogo a kms de distância. Depois do "salvemos o SNS não comendo bacalhau à Brás", cabe agora o momento "talvez a tragédia não chegue se não fizermos uma sardinhada". Sim, fazer churrascos com 40 graus no pinhal é estúpido, e negligente, é proibido e ainda bem que o é. Mas fazer discursos de culpabilização individual para uma política nacional ecológica, agrícola e florestal desastrosa não é menos negligente. É mais. É como andar a 300 à hora e querer travar em 2 segundos. Porque se uma família, sem posses, planta uns eucaliptos para vender pasta de papel a uma multi(nacional) e conseguir pagar os estudos de um filho, o Estado tem obrigação de saber que isto, com dias - normais, que todos os anos existem - de 40 graus, vai significar uma tragédia para a nação como um todo. Conseguir dar notícias de alertas, pânico, discursos, sobre fogos sem nunca dizer a palavra eucalipto é um esforço político e editorial que me deixa espantada. Os governantes estão em pânico, claro. Os dias que aí vêm são o caldo (normal) do Mediterrâneo que, por isso, tem espécies (carvalhos, entre outros) que não ardem ou ardem lentamente. Estou a ver imagens de eucaliptos a arder e nunca em momento algum a palavra é referida. O que há são discursos culpabilizadores dos cidadãos (que ao mesmo tempo são desresponsabilizadores dos governantes), e entrevistas a pessoas humildes, desesperadas, a pedir "ajuda a Deus" a verem as casas de uma vida em risco, vítimas de tudo isto. Que impotência! Há tantos problemas na humanidade para os quais não há solução, há tantos outros que são amplamente conhecidos. E vemos repetirem-se os dramas, recheados de cinismo e "surpresa". O que há de novo neste ciclo de arde/tragédia/eucalipto/calor? Nada.
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