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Não é o abandono do campo que faz fogos, é a política, incluindo a do eucalipto (o mercado) que leva ao abandono do campo. Fazer do campo abandonado a origem do problema é promover de facto a expropriação dos pequenos proprietários.
Esta política tem uma história remota.
Os camponeses expropriados para se tornarem trabalhadores ou vão de forma submissa para a fábrica, sem organização, ou fazem revoltas incontroláveis. Mais, na Champanhe como na Ucrânia Ocidental, no Minho como Baviera, eles são protagonistas de revoltas que podem tornar uma revolução incontrolável (russa) mas também são a base social contra as revoluções sociais. Como garantir o fim destes evitando revoltas massivas, como conseguir introduzir o capitalismo nos campos da Europa, sem que eles camponeses se tornassem disruptivops? A Política Agrícola Comum foi a resposta da burguesia europeia do pós guerra a esta questão. A PAC não é uma política de fixação ou desenvolvimento rural mas justamente da mercantilização da agricultura. O campo foi sendo abandonado porque a produtividade do trabalho agrícola é muito baixa, a única agricultura rentável para o lucro é a intensiva, quase sem trabalhadores (no geral, há excepções, como apanha de algumas frutas). Nestes 40 anos a esse abandono juntou-se o monopólio (de facto) da pasta de papel que fez da paisagem florestal portuguesa uma monotonia, desinteressante, seca, feia e repetitiva. Espécie altamente combustível, foi plantada segundo o modelo clássico neoliberal: as pequenas empresas sub contratadas (os pequenos proprietários) plantam, vendem ou alugam às celuloses, o prejuízo é do Estado - custo com fogos, e erosão dos solos.
Claro que podemos argumentar que a pequena propriedade não é viável. Ou pelo menos debater o tema sem tabus. Podia ser viável com subsídios - quanto gastamos em fogos que podemos gastar a produzir alimentos subsidiados? Não tenho porém ilusões, a floresta portuguesa devia ser de gestão pública e colectiva. Não Estatal. Mas sim pública e coletiva, permitindo plantar áreas de floresta e agricultura com alto retorno em matérias primas e lamentos ricos. Mas façamos a questão ao contrário: desde quando a grande propriedade privada das celuloses é viável? O país a arder, pessoas a morrerem, casas a desaparecer, uma paisagem devastada é "rentável", para quem?
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