Caros amigos
Fiquei em primeiro lugar num concurso para professora na UNL (FCSH). O júri, nacional e internacional, que avaliou o meu percurso científico ao longo de vinte anos, colocou-me unanimemente em primeiro lugar. É uma honra.
Quero deixar duas notas importantes: a primeira é agradecer a todos os que (dentro e fora da academia, dentro e fora do país) me apoiaram publicamente, defendendo de forma intransigente o meu percurso intelectual e académico quando fui alvo de uma campanha que tentou prejudicar-me no concurso manchando a minha honra junto de colegas e da opinião pública.
A universidade não pode abdicar do pluralismo de ideias, teorias ou perspectivas. Universidades não podem tornar-se capelinhas de uma só confissão. O conhecimento das condições de trabalho, o estudo científico do seu impacto em todas as esferas da sociedade - nada é tão central como o trabalho, porque a partir dele é estruturado todo o modelo económico e o modo de vida das sociedades -; a história das revoluções e a compreensão dos conflitos sociais, são fundamentais para transformarmos a sociedade num sentido de justiça, igualdade, liberdade. Esse saber só pode ser construído de forma interdisciplinar, internacional e crítica. Ciência é liberdade de questionar. Uma relação harmoniosa entre todos nós, e entre nós e a natureza, é estrutural para sermos felizes. É para isso que, com os meus colegas, quero contribuir com o meu trabalho.
Uma segunda nota para reivindicar que trabalho de forma cooperativa com dezenas de colegas que continuam precários, e é com o seu trabalho que o País se move também. Mas estão sempre ameaçadas de desemprego cíclico, ou andar de bolsa em bolsa, e tudo isto mina a independência científica, que exige segurança no trabalho. Segurança no trabalho pode não significar estar toda a vida no mesmo trabalho ou com as mesmas responsabilidades, mas tem que significar que as pessoas podem mudar , consoante se adaptam melhor, sem caírem no desemprego, que é uma ameaça à sua vida. Hoje, o que existe é que a vida das pessoas está em perigo, insegura e isso impede projectos a longo prazo, de trabalho e vida. Essa devia ser uma prioridade governativa, é acarinhando os quadros científicos (e os trabalhadores em geral) que transformamos para melhor o país. Perguntar que país queremos é responder que modelo laboral deve existir. Sem um forte saber científico - livre e crítico, reitero - haverá menos e piores soluções para os problemas que enfrentamos.
Hoje celebro convosco este lugar que é tanto uma vitória pessoal como coletiva, nomeadamente dos coletivos de trabalho em que me insiro. "Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos (acrescento eu, com os outros), para mudar o que somos" (Galeano).
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